Intervenção Militar do Exército Zimbabueano removeu ontem o Presidente Mugabe do poder
|Depois de as forças militares terem ocupado a televisão pública durante a madrugada de quarta-feira, o major-general zimbabuano Sibusiso Moyo leu um comunicado em directo em que quis deixar claro que não se tratava “de um golpe de Estado militar” e que o Presidente Robert Mugabe e a sua família se encontravam a salvo, depois de ter sido detido numa “transição [de poder] sem sangue”. O objectivo, disse Moyo, é “atingir criminosos à volta do Presidente, que estão a cometer crimes que causam sofrimento social e económico” no país, de forma a levá-los “à justiça” — no entanto, não indicou a quem se referia.
“Na noite passada, a Primeira Família foi detida e estão a salvo, isto era necessário tanto pela Constituição como pela sanidade da nação”, lê-se no Twitter do partido vigente, o Zanu-PF. “Hoje começa uma nova era e o camarada Mnangagwa [vice-presidente demitido por Mugabe na semana passada] ajudar-nos-á a alcançar um Zimbabwe melhor”. Ainda que o golpe de Estado seja negado pelas forças militares e pelo Zanu-PF, o correspondente da BBC Shimgai Nyoka diz que a situação no país reúne “todos os elementos de um golpe”.
Last night the first family was detained and are safe, both for the constitution and the sanity of the nation this was necessary. Neither Zimbabwe nor ZANU are owned by Mugabe and his wife. Today begins a fresh new era and comrade Mnangagwa will help us achieve a better Zimbabwe.
— ZANU PF (@zanu_pf) 15 de novembro de 2017
Ainda de acordo com a conta do Twitter do partido Zanu-PF, Emmerson Mnangagwa assumiu o cargo de Presidente interino.
Zimbabwe has not had a coup. There has been a decision to intervene because our constitution had been undermined, in the interim Comrade E Mnagngawa will be president of ZANU PF as per the constitution of our revolutionary organisation.
— ZANU PF (@zanu_pf) 15 de novembro de 2017
Segundo a Reuters, que cita uma fonte governamental do país, o ministro das Finanças Ignatius Chombo também está entre os detidos. Não é claro quem está a liderar a acção militar. “Assim que cumpramos a nossa missão, esperamos que a situação retorne à normalidade”, disse ainda Moyo durante a ocupação à transmissora pública nacional ZBC.
Nesta quarta-feira, o movimento da oposição MDC (Movimento para a Mudança Democrática) pediu um regresso pacífico à democracia constitucional. Perante a tensão vivida no país, o secretário-geral do partido da oposição, Douglas Mwonzora, disse que estão “seguros de que o exército está em processo de tomar o comando”.
Numa entrevista telefónica a partir do Zimbabué com o canal sul-africano ANN7, Mwonzora reiterou: “Esta é a definição padrão de um golpe de Estado. Se isto não é um golpe, o que será?”. Mwonzora acrescentou que o partido governante, a União Nacional Africana do Zimbabué – Frente Patriótica (ZANU-PF) “estão em fase de negação, mas que já não têm o controlo”.Este movimento da oposição é o principal rival do partido no poder há duas décadas, o Zanu-PF do Presidente Mugabe, de 93 anos. Citados pela Reuters, afirmaram ainda que esperam que a intervenção militar conduza a uma nação “estável, democrática e progressiva”.